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Trump não humilha Lula e frustra direita

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No domingo, acordei cedinho, com uma missão: acompanhar o encontro entre Donald Trump e Lula. Aquele que ia e não ia acontecer, e acabou acontecendo. Ou melhor, acabou sendo realizado na Malásia. E o meu primeiro comentário a respeito do aguardadíssimo diálogo entre os dois presidentes?, inimigos?, adversários?, antagonistas?… Sei lá. Os dois. Meu primeiro comentário é este:

Num canal da concorrência, havia nada menos do que 3 mil pessoas assistindo, ao vivo, ao encontro entre Trump e Lula. Três mil pessoas. Às 6h da manhã de um domingo. E o chat da transmissão estava animado, com as pessoas trocando farpas e torcendo cada uma para seu lado da disputa. E aqui não dá para escapar ao clichê comparativo: como numa partida… (Ops. Quase. …de. Ufa, consegui escapar).

Mesa de bar

Antes da reunião propriamente dita, Trump e Lula conversaram com os jornalistas. E aí cada um viu o que queria ver. O que eu vi foi um Trump liso e sério, dando respostas evasivas, falando o que queria falar, independentemente do que os outros queriam saber. Trump lembrou ainda a história do teleprompter na ONU e um detalhe que chamou a minha atenção: estava sentado na ponta da cadeira, como se tivesse pressa.

Enquanto isso, Lula parecia tenso em sua postura de tranquilidade ensaiada. Alguém deve ter dito para ele: “Lula, finja que você está numa mesa de bar”. Ele foi lá e fingiu. Mas só até certo ponto. Na hora de falar, deu para perceber certa hesitação na voz de Lula. O que é compreensível. Afinal, não é todo dia que o Lula tem a oportunidade de encarar alguém que xingou de fascista há não muito tempo.

Versão oficial

Aliás, interessante notar como o Lula quero-ser-estadista é diferente do Lula socorro-não-consigo-descer-do-palanque. Na coletiva, Lula se mostrou educado. Quase civilizado. Bem diferente do sujeito que, dois dias antes, tinha se enrolado todo com as palavras e dito que os traficantes, tadinhos, são vítimas dos usuários de drogas. Mas é aquela coisa, né? Nada como um dia após o outro.

Como disse, porém, o encontro não foi televisionado. Assim, coube ao chanceler Mauro Vieira correr para dar a versão oficial sobre a conversa. Uma versão que os petistas vão aceitar sem desconfiar e da qual a direita vai desconfiar sem aceitar nadica do que foi dito: o encontro foi muito positivo, tudo vai se resolver em breve, a gente respeitamos o adversário, mas viemo para ganhar, o importante são os 3 pontos, etc. Novamente, acredita quem quer. No que quer. Inclusive nesta minha análise.

“Não é da sua conta”

De volta à coletiva, acabo de perceber que esqueci de mencionar uma coisa. É que um jornalista perguntou a Trump se o assunto “Bolsonaro” seria discutido. Sei que tem muita gente aí que adora o jeitão abrupto de Trump, mas, pelos meus padrões, ele foi grosseiro ao dizer que isso não era da conta da pessoa que tinha perguntado. Pô, Trump. Claro que é. Ou você acha que alguém está mesmo interessado nas tarifas?

Ao ouvir o nome de Bolsonaro mencionado, Lula não se conteve e fez um sinal de contrariedade, como se dissesse: “por que é que você está perguntando isso?”. E provavelmente não prestou atenção ao que Trump falou em seguida. “Sempre achei que ele era/fosse um…”, disse Trump e eu acho que ouvi “straight shooter”. Que, se me lembro bem do tempo em que traduzia “Sabrina”, significa “uma pessoa que vai direto ao ponto” ou “uma pessoa correta e honesta”.

Mudança de postura?

O que me chamou a atenção aí foi o “sempre achei que ele era/fosse”. Posso estar equivocado ou exagerando, mas me parece que essas palavras ditas assim, em sequência, sinalizam algum tipo de mudança de postura, pelo que elas trazem de implícito. Algo como “sempre achei, mas não acho mais”. De qualquer forma, ali, na frente do Lula, Trump não fez a defesa enfática de Bolsonaro que tantos esperavam. Aliás, vale aqui o registro de que, contrariando expectativas, Trump não viu em Lula um Zelensky e não o humilhou. Ao menos não publicamente.

Por fim, a versão oficial de Mauro Vieira diz que Lula convidou Trump para ir ao Brasil e Trump convidou Lula para ir aos Estados Unidos. A foto do encontro divulgada pela Casa Branca também é digna de nota. Mostra um Trump sorridente e um Lula de cara um pouco mais fechada, mas que também não chega a ser uma carranca nem nada. Sinal de que… Do que você quiser. Afinal, como já disse, nos detalhes desse encontro aí cada um vai ver o que quiser e adaptar a narrativa às suas necessidades. Inclusive eu. E você.

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