Depois de certa empolgação inicial nas negociações com Trump, Lula deu mais uma (perdi as contas!) entrevista coletiva na Malásia e já começou a mudar o discurso. Veja bem, não é bem assim, aquele Marco Rubio lá, os Estados Unidos estão de má vontade. Aquela coisa. De volta ao Brasil, tudo indica que ele deixará a cordialidade de lado e voltará a atacar Trump, a exaltar a soberania nacional e principalmente a culpar Bolsonaro. Mas, desta vez, não o Jair, e sim Eduardo Bolsonaro.
Ele que, sentindo-se ameaçado no Brasil, fez o que qualquer um de nós, se tivesse condições, faria: deu um pinote em Alexandre de Moraes, se exilou nos Estados Unidos e, uma vez lá, em território amigo e sob um governo também amigo, articulou essa história aí de sanções e Lei Magnitsky. É uma paternidade da qual Eduardo Bolsonaro não se esquiva. Pelo contrário! Ele assume, se orgulha e espera, em breve, colher os frutos dessa estratégia.
Consequências não intencionais
Só que, como toda estratégia, seja ela de direita, de esquerda ou transversal, essa aí também tem seus riscos. São as chamadas “consequências não intencionais”, que se revelam o tempo todo, para todo mundo, em todos os tipos de empreitadas – a não ser que você dê muuuuuuuita sorte. Afinal, se não somos perfeitos, e não somos, Eduardo Bolsonaro tampouco é. Viver é arriscado. Agir é arriscado. Lutar contra um governo de tendência autoritária, então, é muitíssimo arriscado.
E um dos riscos que o Zero Três assumiu é esse sobre o qual estamos conversando hoje: o suposto (provável?) ganho político de Lula, um presidente impopular, gastador, criador de impostos e que, quando abre a boca, só fala asneira. Como aquela coisa de os traficantes serem vítimas dos usuários de drogas – uma fala que pegou mal, mas pode ficar tranquilo, leitor petista. Porque ano que vem o TSE vai dar um jeito de proibir que os adversários de Lula usem essa fala danosa aí. Quer apostar?
Tentativa & erro
De volta a Eduardo Bolsonaro, dizem que no Planalto ele está sendo chamado jocosamente de “Camisa 10”. Mais: dizem que ele virou o principal cabo eleitoral do PT para 2026 e que vai devolver a popularidade que Lula perdeu em alguma gaveta do Alvorada. Na direita, aliás, a mera menção a essas possibilidades esdrúxulas é vista com repugnância. A direita, ou melhor, a porção mais intransigente dela, não concebe a mais remota possibilidade de Eduardo Bolsonaro, apesar de sua boa intenção, ter cometido um erro.
É uma postura com a qual não concordo. Nem poderia. Até porque não entendo. Ora, não somos falhos? Não damos com os burros n’água, apesar de nossas melhores intenções? Pois então. Com alguma ressalva, admiro a tentativa de Eduardo Bolsonaro. E entendo a lógica por trás dela. A coisa de asfixiar financeiramente Alexandre de Moraes & Cia e, ao mesmo tempo, fazer pressão sobre a elite financeira que dá algum tipo de sustentação ao governo Lula. Na teoria, faz sentido. No mais, é uma tentativa de derrotar um inimigo que parece invencível.
Plano de ação
Mas não adianta. A vida está cheia das tais consequências não intencionais. Ninguém é imune a elas. Este texto, por sinal, é um bom exemplo disso. Ao escrevê-lo, minha intenção é cristalina: propor uma reflexão e estabelecer um diálogo com o leitor a partir da observação da realidade. Mas nada garante que minhas palavras serão interpretadas como eu gostaria. Até porque não tenho controle sobre o humor e o grau de compreensão do leitor. Por isso é que escrever é sempre um risco. Um risco calculado e muitas vezes mal calculado. Mas sempre um risco.
O fato é que, ao conseguir que os Estados Unidos impusessem sanções aos ministros do STF, e principalmente tarifas adicionais aos produtos brasileiros, Eduardo Bolsonaro, sem querer, acabou dando uma forcinha ao governo Lula. Daí o apelido perverso. Não é uma ajuda determinante nem nada. Mas é uma ajuda. Um empurrão. Porque um governo que antes tinha como plano de ação apenas o aumento de impostos agora tem um propósito claro: defender a tal da soberania nacional e proteger a economia das danosas sanções norte-americanas.
No que vai dar tudo isso?
É uma narrativa que pode não colar comigo e com você, mas que cola com muita gente. Às vezes por adesão ideológica, mas também por ignorância ou por resquícios de um espírito antiamericano. Coisa assim. Ou então a minha teoria preferida: por puro e simples medo. Isso mesmo! Medo. De que nos transformemos numa Venezuela ou numa Cuba – países mergulhados na miséria causada pelo comunismo e agravada pelas sanções internacionais.
No que vai dar tudo isso? Não sei e quem disser que sabe está mentindo ou apenas chutando. As declarações recentes de Lula apontam para um impasse que deve se estender e influenciar as eleições em 2026. De qualquer modo, fica claro que a tentativa de Eduardo Bolsonaro, apesar de válida e de ter nos rendido bons momentos nos últimos meses, pode se revelar um gol contra no futuro próximo. Se for esse mesmo o caso, só espero que a direita tenha a humildade de reconhecer o erro estratégico. Acontece, gente. Somos falhos. Imprudentes. Impulsivos. E quem disser que não, que atire a primeira pedra.

