O governo Lula discute internamente que propostas pode fazer a Donald Trump para reduzir ou eliminar as tarifas impostas sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, e entre as opções postas à mesa estão negociações em setores pontuais e um acordo mais abrangente, que aumente de forma substancial o fluxo comercial entre os dois países. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo, que obteve um documento, elaborado antes do encontro entre Lula e Donald Trump na Malásia, e que contém algumas possibilidades que podem ser sugeridas nos próximos encontros de negociação.
A ideia mais ambiciosa é a de um compromisso para aumentar o fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos para US$ 200 bilhões até 2030 – seria um aumento de cerca de 60% em relação aos US$ 124 bilhões registrados em 2024, segundo dados norte-americanos. O Brasil é, hoje, um dos países com os quais os EUA têm superávit na balança comercial, ao contrário do que afirmou Trump na carta enviada a Lula em julho, comunicando a sobretaxa de 40% imposta devido ao que o norte-americano considera uma perseguição política do STF a políticos de direita, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, e violações à liberdade de expressão cometidas pelo Supremo.
Os técnicos envolvidos na preparação deste documento também sugeriram que o governo brasileiro mostre interesse em fazer aquisições na área de defesa – a norte-americana Boeing chegou a disputar uma licitação bilionária para a venda de caças para a Força Aérea Brasileira, em um processo que durou de 2006 a 2014, mas que foi vencido pela sueca Saab. A lista de propostas ainda inclui, segundo o Estadão, colaborações bilaterais em setores como energia, propriedade intelectual, terras raras e inteligência artificial.
Os brasileiros também querem contar com o envolvimento do setor privado nacional, tanto em termos de compras de produtos e serviços norte-americanos quanto em anúncios de investimento nos Estados Unidos. Na avaliação interna, este é o tipo de proposta que, mesmo incomum, deve agradar ao presidente norte-americano, desde que contenha números concretos que ele possa exibir dentro dos EUA, em termos de quantia investida e possível geração de empregos – um dos alegados objetivos do “tarifaço” global imposto por Trump. A Embraer, que tem fábricas dos Estados Unidos e compra peças norte-americanas para as aeronaves montadas no Brasil, já havia demonstrado interesse em incrementar seus planos de investimento e compras.
Nenhuma dessas propostas, no entanto, foi feita durante os encontros realizados na Malásia – nem na conversa entre Lula e Trump, nem na reunião entre representantes brasileiros e norte-americanos. O objetivo, segundo um dos negociadores ouvidos pelo jornal, era evitar que Trump aumentasse a aposta e pedisse mais do que os brasileiros estavam dispostos a oferecer. Mas sabe-se que ambos os países têm estudos sobre os setores mais afetados de cada lado, desde que Trump impôs a primeira tarifa, de 10%, em abril, e isso poderá servir de base para as futuras negociações.
Um negociador estima que em três reuniões será possível ter uma ideia mais concreta de que itens estariam presentes em um eventual acordo. No entanto, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, afirmou na sexta-feira que ainda não há nenhuma data marcada para uma próxima reunião, presencial ou virtual, entre as equipes de Brasil e Estados Unidos.

