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BC deve manter juros com inflação e risco fiscal

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O Banco Central (BC) deve manter a taxa Selic em 15% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que se encerra nesta quarta-feira (5). A provável decisão reflete a persistência da inflação acima da meta e as projeções do mercado financeiro, que apontam para um IPCA de 4,55% em 2025 e 4,20% em 2026, segundo o boletim Focus. divulgado nesta segunda-feira. Outro fator que pesa é o descontrole fiscal.

A postura rigorosa busca garantir que a queda da inflação seja sustentável e que as expectativas — hoje acima da meta — retornem aos 3%. O mercado de juros futuros (DIs, que refletem as apostas sobre a Selic) já reflete essa postura, com taxas projetadas em 14,89% para janeiro de 2026.

Analistas do Itaú estimam que o Copom manterá a taxa estável diante das expectativas desancoradas e da resiliência do mercado de trabalho, reconhecendo que a política monetária restritiva produz efeitos com defasagem temporal. O BC busca evitar ajustes prematuros que possam comprometer o processo de desinflação.

Inflação persistente e mercado de trabalho aquecido desafiam o BC

A inflação acumulada em 12 meses até setembro atingiu 4,59%, acima do teto da meta de 4,5%. Os principais desafios incluem núcleos de inflação elevados e projeções distantes do centro da meta, fixada em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O mercado de trabalho aquecido adiciona complexidade ao cenário. Com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos – 5,6%, en setembro –, o consumo das famílias permanece resiliente, sustentando a demanda agregada e dificultando a convergência da inflação à meta.

Ao manter os juros elevados, o BC sinaliza que a política monetária permanecerá restritiva até que haja evidências consistentes de convergência da inflação à meta, reduzindo o risco de nova desancoragem das expectativas.

A autoridade monetária tem enfatizado que a credibilidade da política de metas de inflação depende da ancoragem das expectativas, e qualquer sinalização prematura de afrouxamento monetário poderia comprometer esse processo.

Risco fiscal pressiona juros e limita espaço para cortes na Selic

O cenário fiscal continua sendo um dos principais obstáculos para a queda dos juros. A ausência de superávit primário sustentável obriga o governo a financiar seus déficits, competindo com a iniciativa privada pela captação de recursos e elevando o custo do crédito e as taxas de juros de longo prazo.

O principal risco fiscal, segundo analistas, reside na possível flexibilização das regras fiscais. Isso permitiria maior expansão das despesas primárias e novas renúncias de receita. “Isto pode comprometer a consolidação fiscal”, destacam os economistas do Rabobank.

O Rabobank projeta o endividamento público em 81,4% do PIB ao fim de 2025. A trajetória crescente da dívida aumenta a percepção de risco dos investidores, que exigem prêmios mais elevados para financiar o Tesouro Nacional.

“Quando há desequilíbrio fiscal, isso é um terror para o sistema financeiro porque o governo, quando gasta mais do que arrecada, precisa captar recursos. Para captar, ele já paga uma taxa de juros — a taxa básica de 15% — e isso influencia na formação das taxas de juros”, diz Gilmar Mendes, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral (FDC).

A dinâmica fiscal também afeta as expectativas de inflação de forma indireta. A percepção de falta de compromisso com o equilíbrio das contas públicas eleva as projeções de inflação futura, forçando o BC a manter os juros mais altos por mais tempo.

Cenário externo e perspectivas para o corte de juros em 2026

Apesar das incertezas globais, o cenário externo tem sido mais favorável ao Brasil, com fluxos de capital estrangeiro sustentando a liquidez do mercado doméstico. A resiliência das commodities e o apetite por ativos de emergentes têm contribuído para estabilizar o câmbio.

No entanto, riscos permanecem no horizonte, como a política monetária dos EUA, turbulências geopolíticas e a desaceleração da China.

A combinação de juros elevados, inflação persistente e incertezas fiscais mantém o BC em postura cautelosa. Analistas projetam que o início do corte de juros em 2025 só deve ocorrer no segundo semestre, e de forma gradual, condicionado à melhora consistente dos indicadores e ao avanço da consolidação fiscal.

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