Calma. Por que a pressa? Já falo de Flávio Bolsonaro como pré-candidato. Antes, porém, quero reclamar e dizer que está cada vez mais difícil conversar sobre política no Brasil. Mesmo entre pessoas da mesma tendência. E não porque as pessoas estejam cada vez mais intransigentes. Digo, tem isso também. Mas o maior problema é a, digamos, instabilidade emocional e factual de tudo o que acontece. Uma hora é uma coisa, outra hora é outra. O que se fala num minuto não faz mais sentido noutro.
Até eu chegar ao fim deste texto, por exemplo, tudo pode mudar. Tudo pode ter mudado. Será que o Flávio Bolsonaro continua pré-candidato à Presidência? Ele disse que sim, mas parece que teve uma reunião com os líderes do Centrão que foi cancelada. Já não sei de mais nada. Só sei que era para eu vir aqui hoje e engrossar o coro dos que se dizem contra ou favor de #FlávioBolsonaro2026. Mas tinha um romance no meio do caminho e esse romance se chama “Stoner”, de John Williams.
Pergunta óbvia e simples
Outro dia falo mais detidamente sobre o livro – que desde já recomendo. Por ora, vou apenas citar que, já no fim do romance, o personagem-título faz um balanço melancolicamente positivo de sua vida, aqui e ali parando para se perguntar “o que você esperava que fosse acontecer?” e “como você esperava que fosse?”. É uma pergunta tão óbvia que dá até raiva e tão simples que dá até… raiva. E é uma pergunta que nos fazemos pouco, sobre algo que, no final das contas, determina até mesmo como encaramos o noticiário: o que esperamos da política e dos políticos?
Veja o caso da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência (aêêêê!), anunciada no finalzinho da semana passada. As pessoas passaram o fim de semana se xingando por causa disso, cada qual escolhendo um lado assim meio que por instinto e senso de pertencimento, e fazendo prognósticos com base no eu-acho-isso e eu-acho-aquilo. Sem levar em conta que o isso e o aquilo dependem de expectativas. Isto é, do que você espera que aconteça, mas provavelmente não vai acontecer do jeito que você espera.
O Brasil tem solução?
Vai ser melhor. Ou talvez seja pior, mas não muito. De uma coisa eu tenho certeza: vai ser diferente do que você e eu esperamos. E o seu ou o meu apoio ou rejeição ao nome de Flávio Bolsonaro não alteram absolutamente nada. Muitos acordos ainda serão feitos e desfeitos. Haverá traição, choro e ranger de dentes. Teimosia também. Coisas serão ditas e desditas. Haverá mentiras, muitos mal-entendidos e xingamentos também. E, no final das contas, sua alegria ou tristeza diante do resultado eleitoral, e pelos quatro anos seguintes, dependerá apenas de suas expectativas iniciais. Estas de agora, nas quais você não está pensando. Mas deveria.
Se você acha que o Brasil tem solução, o que quer que signifique isso, por exemplo, sua expectativa é uma. Se você acredita que o Lula está destruindo o país, idem. Agora, se você acha que tudo está mais ou menos como sempre foi, sua expectativa é outra. Bem diferente. Quem, por sua vez, acredita que o Brasil se tornará, se é que já não se tornou, uma ditadura comunista, tem certas expectativas e necessidades que serão ou não supridas por Flávio Bolsonaro ou outro candidato qualquer. Quem acredita em outras coisas tem outras necessidades. E assim por diante.
Frustração inevitável
Agora imagine o tamanho do desafio que é atender as expectativas e saciar as necessidades de 200 milhões de brasileiros, cada um deles com uma ideia diferente do que significa o Estado e qual o papel do Estado, todos pedindo, todos querendo, todos julgando e alguns até exigindo que a coisa seja assim, e não assado. Imagine mais! Imagine a loucura que é se apresentar como uma pessoa capaz de satisfazer essas expectativas e necessidades, e principalmente de preencher esse vazio todo.
Daí a importância de calibrarmos nossas expectativas. Por meio do conhecimento e da informação, sim, mas também por meio da imaginação. Seja honesto com você. Reserve um instante e se pergunte: o que espero de um presidente? Flávio Bolsonaro (ou Tarcísio ou Ratinho Jr. ou Lula ou o Zé das Couves) conseguirá agir como quero? Ele dirá aquilo tudo que espero ouvir de um governante? E a pergunta mais importante de todas: será que não estou depositando expectativas demais sobre seres humanos tão falhos e limitados quanto eu mesmo?
Porque, se você estiver fazendo isso (e provavelmente está), acredite: a frustração é inevitável.

