Era de se esperar que os pesquisadores já tivessem resolvido há muito tempo se a pobreza causa o crime. À primeira vista, a resposta parece óbvia. Uma correlação certamente existe: qualquer pessoa que trabalhe no sistema de justiça criminal — ou simplesmente caminhe por um bairro de baixa renda — poderia observar que os pobres são mais propensos ao crime. Mas será que a relação é causal? Como lembra a velha canção de Gershwin, “não necessariamente”.
Se limitarmos a análise aos grandes crimes violentos — definidos pelo FBI como homicídio, homicídio culposo, estupro, roubo e agressão — constataremos que os pobres são, em média, mais perigosos. Mas, como mostrarei, alguns grupos pobres são mais perigosos do que outros. Notadamente, a relação entre pobreza e criminalidade é inconsistente. Se a pobreza causa crime, por que todos os grupos igualmente empobrecidos — por raça, religião, etnia, idade, gênero etc. — não cometem crimes violentos na mesma proporção? O fato de não o fazerem sugere que outros fatores estão em jogo.
Considere alguns dados impressionantes que ilustram a inconsistência entre pobreza e violência. Algumas cidades e países com taxas elevadas de pobreza têm baixos índices de homicídio — e vice-versa. Calcutá, por exemplo, uma das cidades mais pobres da Índia — e, na verdade, do mundo — registrou uma taxa de homicídios de apenas 0,3 por 100 mil habitantes em 2008. Em Déli, por contraste, a taxa foi de 2,9 por 100 mil. No mesmo ano, a muito mais rica Nova York teve taxa de 7 por 100 mil — mais de 23 vezes maior que a de Calcutá.
O Zimbábue, um dos países africanos mais pobres, apresentou a notavelmente baixa taxa de homicídios de 0,5 por 100 mil em 2023. Já a Jamaica, com apenas 16,7% da população vivendo na pobreza, teve a maior taxa de homicídios do mundo: 49,3 por 100 mil. O que explica a relativa não violência dos zimbabuanos pobres? E por que os jamaicanos são tão homicidas, apesar de sua relativa prosperidade? Evidentemente, a pobreza não pode ser a resposta para ambas as perguntas.
Observando as tendências macro nos Estados Unidos, encontramos anomalias semelhantes. No fim dos anos 1930, à medida que a Grande Depressão se aprofundava, as taxas de homicídio caíram, como registro em meu livro The Rise and Fall of Violent Crime in America. Da mesma forma, durante a chamada Grande Recessão de 2007–09, as taxas de assassinato — que começaram a cair no início dos anos 1990 — continuaram em queda. E, no fim dos anos 1960, quando a economia americana vivia um boom, a grande onda de criminalidade (mais parecida com um tsunami) começava sua mortal escalada de múltiplas décadas — um padrão que também analiso em The Rise and Fall of Violent Crime in America.
Pesquisas criminológicas revelaram surpresas semelhantes, sem consenso sobre a explicação. Há mais de 40 anos, o criminologista Steven F. Messner, estudando mais de 200 áreas metropolitanas, ficou surpreso ao descobrir que, após controlar diversas variáveis demográficas, a pobreza se relacionava de forma inversa ao homicídio. Em outras palavras: quanto mais pobres havia em uma área metropolitana, menor era a taxa de homicídios. Em um estudo subsequente, analisando bairros de Manhattan, o mesmo pesquisador constatou que, embora a pobreza estivesse associada ao homicídio, a desigualdade econômica — a concentração de riqueza — não tinha relação com o ato de matar.
Em um estudo de 1996 sobre bairros extremamente desfavorecidos de Columbus, Ohio, que incluía pobreza na própria definição de desvantagem, Lauren J. Krivo e Ruth D. Peterson constataram que, mesmo com níveis comparáveis de privação, comunidades negras tinham taxas mais altas de violência do que comunidades brancas. Em 2009, Krivo, Peterson e um terceiro coautor identificaram diferenças significativas nos níveis de violência entre bairros negros e latinos, apesar de níveis semelhantes de desvantagem e segregação.
Note o fio condutor: se a pobreza causa crime, então grupos igualmente empobrecidos deveriam apresentar níveis igualmente altos de criminalidade, mesmo após controlar outros fatores relevantes. Mas isso não acontece — e esse permanece um mistério. Tentarei desvendá-lo, começando por uma análise surpreendente da Big Apple.
Três anos atrás, escrevi para o City Journal sobre um novo estudo sobre pobreza entre asiáticos em Nova York. Pesquisadores da Universidade Columbia descobriram que mais asiáticos do que afro-americanos viviam abaixo da linha de pobreza — um resultado surpreendente. Curioso sobre o impacto disso no crime, examinei dados de prisões por crimes violentos. Os números mostraram muito mais prisões de negros do que de asiáticos.
Como isso seria possível? Seria um caso isolado ou padrão recorrente? Para descobrir, reuni dados de Nova York de 2024. Eis o que encontrei.
Como mostra o gráfico acima, em 2024, latinos, asiáticos e negros estavam próximos em níveis de pobreza. Os latinos tinham o índice mais alto, 26%; os asiáticos vinham em seguida, com 24% abaixo da linha de pobreza; e os negros estavam em terceiro lugar, com 23%.
Quando examinei prisões por crimes violentos, a ordem mudou drasticamente. Como mostra o gráfico na página seguinte, negros tinham, de longe, o maior número de suspeitos por crimes violentos per capita; latinos vinham depois; e asiáticos eram os menos prováveis de serem presos.
Considere as prisões por homicídio — provavelmente o dado criminal mais confiável, já que subnotificação não é um problema e a polícia dedica mais recursos à solução desse tipo de crime. A taxa de prisões por homicídio de negros, ajustada pela população, é de 11,5 por 100 mil — quase o dobro da taxa latina e quase 16 vezes a taxa asiática. Assim, embora mais asiáticos vivam na pobreza do que negros, afro-americanos são 16 vezes mais propensos a serem presos por assassinato.
As disparidades se estendem a outros crimes violentos. A taxa de prisões de negros é 4,5 vezes maior que a de asiáticos por agressão grave, 3,3 vezes maior por estupro e 11,4 vezes maior por roubo. As taxas latinas também são mais altas que as asiáticas, embora geralmente inferiores às negras.
Claramente, pobreza sozinha não explica essas disparidades. Mas o que explica? Dado que as taxas de violência entre negros são elevadas em comparação com outros grupos sociais desde o fim do século XIX, parece haver algo na cultura dos negros pobres — especialmente jovens do sexo masculino — que os predispõe à violência.
O fenômeno é frequentemente descrito como uma “subcultura da violência”, marcada por sensibilidade exacerbada a insultos e ameaças, além de uma prontidão para usar violência em resposta. O sociólogo Elijah Anderson, de Yale, que passou quatro anos imerso nas áreas pobres da Filadélfia, identificou um “código da rua” — um conjunto de regras não oficiais de bairros negros pobres. A essência desse código é demonstrar violência, ou predisposição à violência, para afastar ataques e agressões comuns nessas comunidades. Esse código também opera na cidade de Nova York?
As atitudes culturais em relação à violência — ou, no caso de muitos asiáticos, ao pacifismo — ajudam a explicar por que a pobreza sozinha não responde pelo crime violento. A pobreza está certamente associada à violência, mas não da mesma forma que a gravidade faz objetos caírem.
Uma correlação semelhante existe entre afluência e taxas mais baixas de violência. Indivíduos mais ricos têm mais a perder — empregos, famílias, reputação e liberdade — e tendem mais a contratar advogados e mover ações judiciais do que recorrer à força física. Elevar os pobres à classe média reduz o crime violento, como vimos entre imigrantes irlandeses no século XIX e italianos no início do século XX. Mas não há consenso sobre como alcançar isso por meio de políticas públicas.
Haveria uma explicação cultural para as taxas relativamente modestas de criminalidade entre alguns grupos de baixa renda? A experiência de imigração recente de muitos asiáticos e latinos poderia moderar seus índices de crime? Em Nova York, mais de dois terços da população asiática é nascida no exterior, o que pode fomentar um forte desejo de se adaptar e evitar problemas. De modo semelhante, latinos — especialmente aqueles que entraram ilegalmente — podem temer deportação caso sejam presos, o que poderia deter comportamentos criminosos.
Por outro lado, essa preocupação pode diminuir com o tempo, e os latinos de Nova York vivem nos EUA há, em média, 21 anos. Além disso, a hipótese da imigração não explica as baixíssimas taxas de criminalidade entre brancos, muitos dos quais têm raízes no país que remontam há mais de um século. Nesse caso, a afluência branca pode ajudar a explicar a diferença.
Uma coisa é clara: explicações simplistas da violência baseadas exclusivamente na pobreza são insuficientes. Elas ignoram a dimensão cultural, essencial para qualquer compreensão completa do comportamento criminoso.
Barry Latzer é professor emérito de Justiça Criminal na City University de Nova York.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Does Poverty Cause Crime?

