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Crise nos Correios ameaça contas públicas e campanha de Lula

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A negociação de um empréstimo de R$ 20 bilhões pelos Correios, junto a bancos públicos e privados com aval do Tesouro Nacional, acendeu o sinal de alerta entre economistas e líderes da oposição. Eles temem riscos fiscais e até desvios na operação para sanear as contas da estatal em 2025 e 2026.

O valor negociado supera a receita anual da empresa, que foi de R$ 18,9 bilhões em 2024. Se os Correios não honrarem a dívida, o governo arcará com ela. Para analistas, o fracasso do plano de socorro aos Correios pode criar uma crise política com impacto na campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem.

O conselho de administração da empresa deverá discutir nesta sexta-feira (24) o empréstimo atrelado a um plano de reestruturação para reduzir custos e buscar fontes de receita. Entre as medidas estão o novo programa de demissão voluntária, renegociação com fornecedores e venda de imóveis.

O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), prometeu “agir com firmeza” para investigar e bloquear já o pedido de empréstimo para os Correios, que acumularam prejuízo de R$ 4,3 bilhões só no primeiro semestre. “O país precisa de gestão responsável, não de mais rombos”, diz.

A oposição na Câmara também planeja criar uma subcomissão parlamentar para acompanhar a crise dos Correios, marcado por denúncias de má gestão. Os deputados querem dar transparência aos números e apontar responsáveis. Para eles, o empréstimo serve de manobra para mascarar os prejuízos. Em paralelo, coletam assinaturas para a abertura de um comissão parlamentar de inquérito (CPI).

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que a situação dos Correios “mostra a má gestão das estatais sob o governo atual”, um “modelo falido e aparelhado”. Em plenário, ele criticou o socorro financeiro como “tentativa desesperada de tapar o sol com a peneira”.

Deputado pede auditoria do TCU para apurar risco de violação da lei fiscal

O deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) apresentou denúncia ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a operação de crédito para socorrer os Correios, e pediu auditoria e controle externo. Para ele, o negócio pode violar a Lei de Responsabilidade Fiscal e expor o Tesouro ao risco de calote.

“O Tesouro não pode assumir garantias bilionárias sem clareza técnica e sem autorização adequada do Congresso”, diz o deputado. No documento que enviou ao TCU, ele questiona o respaldo no arcabouço fiscal e a legalidade no aval da União, além de exigir a publicação de documentos e relatórios.

Para Leandro Gabiati, professor de Relações Institucionais do Ibmec-DF, a oposição acerta ao explorar a crise nos Correios como forma de interromper o momento positivo do governo. Ele até acredita que o tema pode gerar desgastes para Lula, mas sem ser fator determinante na eleição de 2026.

Situação caótica dos Correios exige respostas rápidas para evitar o colapso

Em setembro, Lula trocou o então presidente dos Correios Fabiano Silva pelo economista Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil. Na negociação do empréstimo liderada por ele é cogitado um aporte do governo, algo que já sofre resistência da equipe econômica.

Segundo o balanço divulgado em junho, o passivo acumulado relativo a benefícios a empregados de curto prazo chegou a R$ 4,2 bilhões e, de longo prazo, R$ 9,5 bilhões. O ex-presidente da estatal atribuiu a piora na situação financeira à cobrança de imposto nas compras internacionais de até US$ 50, a “taxa das blusinhas”.

Analistas confirmam a urgência de aporte de recursos, mas frisam que a situação da empresa só melhora com novo modelo de negócios, que traga reestruturação operacional, parcerias privadas e modernização tecnológica. O diagnóstico é de que os Correios precisam de reformas estruturais para sobreviver. Esse entendimento é compartilhado até pela ministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI).

Especialista aponta claro risco fiscal e sepultamento da agenda de privatização

O analista financeiro VanDyck Silveira vê o empréstimo aos Correios não só como decisão de política econômica, mas também como “o abandono da agenda de eficiência estatal”. “A contabilidade e o plano de gestão revelam rendição fiscal e o fim da chance de privatização responsável”, acrescenta.

“Emprestar cifra superior ao valor da empresa no seu melhor cenário é uma anomalia. Nega-se critérios técnicos e ainda impõe risco moral perigoso: o de que estatais ineficientes podem contar sempre com a generosidade do Tesouro para sobreviver, mesmo sem entregar valor à sociedade”, explica.

Silveira entende que, a se insistir nesse caminho, o governo deveria ao menos condicionar a liberação de recursos ao cumprimento de metas rigorosas, à submissão a auditorias públicas, à prestação de transparência absoluta e ao início de rota clara de transição para um modelo eficiente e sustentável.

Correios fazem parte do histórico de escândalos dos governos petistas

Os Correios já protagonizaram alguns dos maiores escândalos de governos petistas. Em 2005, a gravação de um diretor da estatal negociando propina revelou o escândalo do mensalão, que abalou o primeiro mandato de Lula e levou à condenação de dirigentes do PT, como o ex-ministro José Dirceu.

Uma década depois, no governo Dilma Rousseff, o Postalis, fundo de pensão dos funcionários, acumulou perdas bilionárias por má gestão e aplicações de alto risco, como títulos venezuelanos. Milhares de segurados tiveram corte drástico de benefícios e tiveram que arcar com contribuições extras para cobrir o rombo.

A Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) é uma empresa pública federal vinculada ao Ministério das Comunicações, cuja atribuição é prestar serviço postal em todo o território nacional como um monopólio oficial. Fundada em 1663, a estatal tem hoje 84 mil funcionários e capital 100% da União. O governo anterior havia colocado a ECT no plano de privatizações.

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