Uma cena triste, e que dá uma boa ideia do absurdo que vivemos, passou despercebida pela maioria de nós: Laurinha Bolsonaro, filha do ex-presidente, teve uma festa de debutante mirrada, solitária e judicializada. Tanto que seu pai, por coincidência Jair Bolsonaro, teve que pedir autorização ao ministro/leão-de-chácara Alexandre de Moraes para realizar a festa.
Não teve entrada triunfal da debutante nem corredor de cadetes nem (que eu saiba) a presença de um galã de “Malhação”. Se teve valsa, foi discreta… Ah, estão me dizendo aqui que a Globo não produz mais “Malhação”. Que seja. Como eu ia dizendo, não teve a grandiloquência que se esperava da festa de 15 anos da filha de um homem rico e importante. Nem cobertura pela imprensa teve.
Pai
Ou melhor, até teve. Mas com foco no pai, e não na menina. Foi isso, aliás, o que me levou a escrever este texto. Fiquei imaginando como deve ser difícil a vida da filha de um político, ainda mais um ex-presidente. Ainda mais Jair Bolsonaro! Que para mim e você é só um personagem, um nome que associamos a uma infinidade de fatos e conceitos – e do qual tenho pena. Mas que para Laurinha é mais do que isso. É pai.
Um pai que, nos últimos 10 anos, ela já viu ser esfaqueado, eleito, criticado, xingado, transformado ao mesmo tempo em herói e vilão nacional, chamado de mito e genocida. Depois, Laurinha o viu ser derrotado, criticado (inclusive por aquele comunistinha infiltrado na Gazeta do Povo), xingado, perseguido e agora preso. Por enquanto, no conforto de sua casa; mas está na cara que Alexandre de Moraes não se restringirá à prisão domiciliar.
Mensagem subliminar
Não deve ser fácil. Na escola, por exemplo, sobre o que conversa Laurinha Bolsonaro com as amigas? Será que ela é alvo de bullying político por parte das meninas más? Se sim, sofre em silêncio? Os professores pegam no pé, contêm a doutrinação ou enfatizam ideologicamente o conteúdo por ela ser filha de quem é? E os meninos, se interessam mais ou menos por Laurinha? Como eles imaginam conhecer o sogrão? Tudo isso, vale lembrar, numa época naturalmente conturbada da vida.
Só espero que Laurinha Bolsonaro aprenda a lição que seus irmãos e mãe se recusaram a aprender: a de que a política é feita para os verdadeiramente vocacionados. Sobretudo para os vocacionados ao martírio simbólico. O que não parece ser o caso de alguém que escolhe o filme “As Branquelas” como tema da festa de debutante. Se bem que, em se tratando da filha do ex-presidente Jair Bolsonaro, sempre haverá alguém, fã ou hater, para ignorar a adolescente e ver, nessa escolha deveras estranha, alguma mensagem subliminar.