A primeira coisa que constatei ao ver o censo dos nomes divulgado pelo IBGE foi que nós, os Paulos, estamos em decadência. Desde a década de 1970. Sniff. A segunda foi que os Dias estão finalmente contados e são 2.035.387. Ba dum tss. A terceira foi que os Alexandres são 422.722 e os Moraes são 1.135.109. Esta última me levou a perguntar: como é ser um Alexandre de Moraes que não aquele?
Um amigo fez as contas. Os Alexandres são 0,21% da população. Os Moraes, 0,56%. Logo, de acordo com a calculadora do amigo, 215.000.000 x 0,21% x 0,56% = 2.528,4. O que significa que o Brasil teria 2.528 Alexandres de Moraes à solta por aí. E talvez algum até preso. Vai saber! Uma amiga que entende de estatística, porém, disse que não há como saber que os 0,56% estão dentro do 0,21%. E… bom. Não entendi nada, mas parece que o número não é tão exato quanto parece.
Tudo por causa da Magnitsky
De qualquer forma, usando meus dons investigativos e ultrapassando obstáculos estatísticos nunca dantes superados, eis que depois de algumas horas encontrei um Alexandre de Moraes para saber como anda a vida dele. “Vai bem, apesar do nome. O pessoal aqui da cidade é que não me dá sossego e fica tirando sarro. Outro dia o dono da mercearia não me deixou comprar fiado, acredita? Tudo por causa da Magnitsky”, conta ele.
Alexandre de Moraes diz ainda que foi alertado a não sair do país “nem pra dar um pulinho ali no Paraguai”. Porque, do contrário, poderia ser preso e deportado para os Estados Unidos. Ele não me pergunta, mas mesmo assim digo que nah, isso aí já é exagero. Tão zoando com você. Mas Alexandre de Moraes, diferentemente de Alexandre de Moraes, é cauteloso e sobretudo sábio. “Vou ficar quieto aqui na minha casinha que eu ganho mais”, diz ele, acendendo um paiero.
Cambada de…!
Conversa vai, conversa vem, ele aos poucos se revela. “Não mando nem na minha própria casa”, diz, em tom de lamúria. “Você também é fã de Guns ‘n’ Roses?”, me pergunta. Sou. Aí, sei lá por quê, ele solta esta: “Odeio jornalista. Teve um que disse que o governo criaria a nota de 500 reais e eu acreditei. Cambada de…!”. Fico bem quieto. Percebendo a possível gafe, porém, ele emenda um pedido de desculpas. “Menos o senhor”, diz. Finjo que acredito.
Alexandre de Moraes, então, confessa que não suporta o homônimo mais rico, famoso e poderoso. “Pode botar aí que o cara é um tirano”, diz. Tem certeza? “Claro. Ele nunca vai me prender. Imagina as manchetes: ‘Alexandre de Moraes manda prender Alexandre de Moraes’”. Rimos. É espirituoso, esse Alexandre de Moraes. Lembro a ele que isso já aconteceu uma vez. Ou quase isso. Aí a conversa envereda para a política.
Viviane
“Tá sabendo da treta do Carlos Bolsonaro em Santa Catarina?”, me pergunta ele. Infelizmente estou. Por algum motivo insondável, Alexandre de Moraes sente que precisa se posicionar e diz, peraí, deixa eu ver nas minhas anotações… Ah, sim! Ele diz que “é uma tremenda mancada, mais uma, aliás, dos filhos do Bolsonaro”. Tento contemporizar. Deixa os meninos. Eles estão tentando, coisa e tal. Mas ele é taxativo: “Os filhos do Bolsonaro destruíram o Bolsonaro e o bolsonarismo”. É o Alexandre de Moraes falando, gente!
O papo durou uma boa meia hora. Alexandre de Moraes disse ainda que é a favor da anistia, mas contra as tarifas do Trump; que nem sabia que o Príncipe William estava no Brasil e que o VAR acabou com o futebol brasileiro. “Quem?”, perguntou ele quando citei o nome de um influencer “famoso”. Que se pudesse voltar no tempo, votava no Enéas e que Milionário & José Rico é mil vezes melhor do que Caetano Buarque – “ou Chico Veloso, sei lá”. Disse ainda que bandido bom é bandido morto, que banda gospel não grava fita demo e que camarão que dorme a onda leva.
Por fim, Alexandre de Moraes disse que estava tarde e que tinha de ir embora, senão a Viviane, sua senhora, ficava braba. Viviane? Tem certeza? Não é possível! É coincidência demais.