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Nova pandemia? Verdades e exageros sobre a gripe aviária

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A gripe aviária está de volta às manchetes. Entre setembro e o fim de novembro, quase três mil casos foram identificados em aves de 29 países da Europa, 85% delas silvestres, segundo a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar).

A maioria dos casos da doença é associada ao vírus H5N1, com o H5N5 em segundo lugar. Uma pessoa de idade e com doenças pré-existentes morreu após uma infecção com H5N5 no estado americano de Washington na semana passada, segundo a agência Reuters.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza quase mil casos de infecção em humanos entre 2003 e 2025. Metade dos casos resultou em morte.

Para cientistas como Marie-Anne Rameix-Welti, diretora do Centro de Infecções Respiratórias do Instituto Pasteur, na França, já é hora de soar o alarme. “O que nós tememos é que o vírus está se adaptando a mamíferos, em especial humanos. Tornando-se capaz de transmissão de humano para humano, e esse vírus seria pandêmico”, disse a especialista à Reuters.

Ela acrescentou que falta aos humanos anticorpos para vírus influenza do tipo H5, enquanto temos contra a gripe sazonal causada por vírus dos tipos H1 e H3.

Possibilidade e probabilidade

Quando emergiu em 2022 um surto de mpox (varíola associada a animais silvestres como roedores e macacos na África), o professor de epidemiologia Joseph Eisenberg, da Universidade de Michigan, foi taxativo em entrevista ao site da instituição: “O mpox é a próxima pandemia”. A previsão, até o momento, fracassou. Como publicou na época a Gazeta do Povo, esse vírus seria controlado rapidamente com imunização.

Como acontece no campo das mudanças climáticas, previsões catastróficas sobre a próxima pandemia costumam falhar. Essa foi a observação do epidemiologista sueco Johan Giesecke, um dos mentores das políticas de saúde da Suécia durante a pandemia de Covid, sobre as previsões catastróficas do Imperial College de Londres: “Eles pensaram que 50 mil pessoas morreriam [do mal da vaca louca em 2001]. Então quantas morreram? Cento e cinquenta e sete.”

O Imperial College também previu, em 2005, que 150 milhões de pessoas morreriam de gripe aviária. O número real foi 455. “Erraram o alvo”, disse Giesecke, segundo o livro The Herd (“O Rebanho”, em tradução livre, 2022), do jornalista Johan Anderberg.

Ainda assim, prudência é uma virtude e existe a possibilidade, ainda que improvável, de emergir uma próxima pandemia dentro das linhagens de gripe aviária — saber diferenciar entre possibilidade e probabilidade é a chave para não transformar prudência em alarmismo.

Rameix-Welti reconhece que “temos medidas preventivas específicas em vigor” e “vacinas candidatas prontas”, além de drogas antivirais, contra um possível vírus H5 transmissível entre humanos. “E sabemos como fabricar uma vacina rapidamente”, ela acrescenta. A cientista acredita que o mundo estaria mais preparado do que estava antes da emergência da Covid.

Rara humildade

Em 2013, a revista científica Nature afirmou em um editorial que “Os cientistas não podem prever pandemias” — um momento de humildade que raramente se viu entre 2020 e 2023. O argumento era que os modelos matemáticos usados em projeções servem para explorar cenários possíveis, mais do que cravar profecias inevitáveis.

Para a publicação, “avaliar o potencial pandêmico do vírus e decidir quais linhagens justificam a manufatura de vacinas em testes é algo que depende de julgamentos de risco relativo”.

Profissionais da pesquisa e médicos, além de instituições, têm interesses que às vezes conflitam com um julgamento sóbrio dos riscos, que trate as probabilidades de surtos pandêmicos proporcionalmente à sua seriedade.

A OMS, por exemplo, às vezes adotou uma retórica alarmista sobre uma próxima “doença X” enquanto promovia um “tratado das pandemias” que criava favorecimentos a si própria. O tratado foi aprovado em maio e contém “jabutis”, por exemplo a promoção de valores de esquerda como “equidade”.

Ameaça inflada vs. ameaça ignorada

Como dito, a OMS registra uma mortalidade elevada de 52% para os quase mil casos de infecção com gripe aviária em humanos desde 2003. Contudo, o número é enganoso para julgar a letalidade geral dos vírus H5 capazes de infectar humanos.

O caso do estado de Washington já é ilustrativo: tratava-se de uma pessoa com doenças pré-existentes, já fragilizada.

Pessoas com sistema imunológico comprometido são mais vulneráveis a contrair vírus cuja capacidade de infectar humanos ainda é incipiente, e morrer disso. Logo, não servem como base de comparação para todos ou previsão de uma letalidade geral.

Além disso, há uma subnotificação de casos leves ou assintomáticos, que instantaneamente reduziriam a letalidade caso fossem contabilizados.

Mil pessoas em mais de duas décadas não é um número grande, se comparado aos bilhões que se infectam com gripe sazonal todos os anos. Esses fatos são ignorados em manchetes como “Pandemia de gripe aviária poderia ser ‘100 vezes pior’ que a Covid”, do jornal New York Post.

Vírus de alta letalidade existem: Ebola (em média, metade dos infectados morre), vírus Nipah (causa uma encefalite com mortalidade entre 40% e 75%), entre outros. Nenhum na lista, contudo, atinge a transmissibilidade do coronavírus da Covid.

O Ebola, assim como a varíola, exige contato direto com fluidos corporais. Um surto de Ebola entre 2013 e 2016 causou mais de 11 mil mortes na África, segundo a Nature, enquanto o total de vítimas da pandemia de Covid foi estimado em 20 milhões.

Muito menos comentada é outra ameaça. De acordo com um artigo científico publicado pelo Journal of Virology no mês passado, a China voltou a fazer experimentos em linhagens de coronavírus de uma forma que é apontada como a origem mais provável da pandemia de Covid-19 pelas inteligências de países como Estados Unidos e Alemanha.

Esses experimentos manipulam a genética de linhagens de coronavírus propositalmente para torná-las mais infecciosas em células humanas cultivadas em laboratório ou em animais modificados para apresentar pulmões mais semelhantes aos humanos. São conhecidos como “experimentos de ganho de função”.

Um dos poucos cientistas que comentaram o caso foi Richard Ebright, biólogo da Universidade Rutgers (EUA) e especialista em segurança laboratorial. Ele observou, no X, que o novo estudo de ganho de função foi feito em condições de segurança laboratorial “BSL-2”, que equivalem a “proteções de biossegurança grosseiramente inadequadas”.

“Continua a perigosa pesquisa de ganho de função”, resumiu Ebright.

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