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Quem herdaria o trono se a monarquia voltasse?

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No início deste mês, alguns articulistas franceses aproveitaram que a França está no meio de uma das piores turbulências políticas da sua história recente para levantar uma ideia que parecia enterrada com a Revolução Francesa: a restauração da monarquia. 

Louis Alphonse de Bourbon, conhecido como Louis XX, passou a dar entrevistas dizendo que “a Quinta República está à beira do colapso” e que o país precisa de “símbolos de estabilidade e continuidade”. 

O contexto político francês despertou um tema que sempre desperta fascínio: e se a Europa voltasse a ter reis e rainhas para resgatar os valores tradicionais e a estabilidade política? 

Quem cresceu fascinado com histórias de reis e cavaleiros pode se surpreender ao descobrir que, em boa parte da Europa, esses nomes ainda existem fora dos livros. Herdeiros legítimos das antigas casas reais seguem vivos, preservando títulos, tradições e genealogias que formaram a base cultural do Ocidente. 

Conheça os herdeiros de algumas casas reais europeias que sobrevivem mesmo após a abolição da monarquia em seus países. 

França 

Os descendentes diretos dos últimos soberanos são príncipes que nasceram sem trono, mas, na sua maioria, estão conscientes da responsabilidade que o sangue real lhes exige. 

Na França, o nome que hoje simboliza essa herança é o do já mencionado Louis Alphonse de Bourbon. O homem discreto de 51 anos, vive principalmente em Madri, mas mantém vínculos com Paris. Ele é casado com María Margarita Vargas Santaella, filha de um empresário venezuelano.  

Bourbon descende de Filipe V da Espanha, neto de Luís XIV, o Rei Sol, e é bisneto do rei Alfonso XIII da Espanha, o que o torna também parente próximo da família real espanhola. Pelo lado paterno, Louis é bisneto de Alfonso XIII, o último rei da Espanha antes da proclamação da Segunda República, e neto de Jaime de Bourbon, duque de Segóvia. Por essa linha, ele é o herdeiro do ramo legitimista da Casa de Bourbon — aquele que considera que os direitos ao trono francês deveriam seguir a linhagem masculina direta de Luís XIV, sem cortes feitos pela Revolução. 

Os legitimistas, movimento monarquista francês que sobrevive desde o século XIX, o reconhecem como Louis XX, “rei da França e de Navarra”. Louis Alphonse estudou economia na Universidade Complutense de Madri, já trabalhou no banco BNP Paribas e preside atualmente a Fundación Francisco de Asís de Borbón, dedicada a causas humanitárias.  

Em público, ele fala com sobriedade e evita discursos abertamente políticos. Mas já se pronunciou contra o casamento e a adoção de filhos por pessoas do mesmo sexo, a eutanásia e o aborto. Em uma de suas entrevistas, defende que a monarquia moderna poderia ter “um papel moral e simbólico na unificação nacional”, sem poder executivo direto. 

Por causa da turbulenta história francesa, o país tem ainda um segundo ramo que reivindica o trono: o orléeanista. O chefe dessa casa real é Jean d’Orléans, duque de Vendôme e descendente do rei Luís Filipe I, que governou a França entre 1830 e 1848. Jean é bisneto de Filipe, conde de Paris, pretendente ao trono durante o século XIX, e vive hoje com a família em Dreux, na região do Loire. Ele trabalha em iniciativas culturais e filantrópicas ligadas à preservação da memória da Casa de Orléans.  

Embora os dois ramos – o dos Bourbon e o dos Orléans – disputem há séculos a legitimidade dinástica, ambos compartilham a convicção de que a França se beneficiaria de uma instituição monárquica que simbolizasse estabilidade em tempos caóticos como o atual. 

Itália 

Seguindo ao sul, na Itália, o possível herdeiro do trono chama-se Emanuele Filiberto di Savoia, príncipe de Veneza e Piemonte. Aos 53 anos, ele é neto do último rei italiano, Umberto II, que reinou por pouco mais de um mês antes do referendo que instituiu a República, em 1946.  

O resultado do plebiscito — 54% a favor do fim da monarquia — obrigou a família Saboia ao exílio, e os descendentes do rei só puderam retornar à Itália em 2002, quando o Parlamento suspendeu a proibição constitucional. 

Emanuele Filiberto nasceu em Genebra, na Suíça, e cresceu longe da Itália. Ele é filho de Vittorio Emanuele di Savoia, que durante décadas liderou o ramo principal da família e que ainda vive. Educado na Suíça e nos Estados Unidos, Emanuele trabalhou em bancos, fundou empresas de moda e participou até de programas de televisão italianos — uma tentativa, segundo ele, de “aproximar o nome Savoia do público”. 

Atualmente, Emanuele Filiberto possui um restaurante italiano em Los Angeles, chamado Prince of Venice. Além da fama de “príncipe moderno”, ele mantém o protocolo dinástico e usa oficialmente o título de Sua Alteza Real, Príncipe de Veneza e Piemonte. 

A Casa de Saboia governou a Itália desde a unificação, em 1861, e foi responsável por consolidar o país como nação moderna. Mas o apoio inicial de Vittorio Emanuele III ao regime de Benito Mussolini manchou a imagem da monarquia e abriu caminho para a queda definitiva.  

Portugal 

Na terra lusitana, onde o regime republicano foi instaurado há mais de um século, o herdeiro simbólico do trono é Dom Duarte Pio de Bragança, duque de Bragança, nascido em 1945. Ele é bisneto do rei Miguel I, monarca que reinou entre 1828 e 1834 e foi deposto após a Guerra Civil Portuguesa que opôs miguelistas e liberais. Desde então, os Bragança dividiram-se entre o ramo constitucional, que deu origem à monarquia brasileira, e o ramo miguelista, que se manteve em exílio. 

Dom Duarte é filho de Dom Duarte Nuno, que regressou a Portugal após a Segunda Guerra Mundial, e de Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, descendente de Pedro II do Brasil. Por essa união, Duarte Pio é parente distante da antiga família imperial brasileira e representa, de fato, a fusão dos dois ramos das dinastias luso-brasileiras. Formado em ciências agrícolas pela Universidade de Genebra, fala fluentemente cinco idiomas e dedica-se a causas de preservação ambiental, bem como a projetos de cooperação lusófona na África. 

Embora não tenha qualquer papel oficial, o herdeiro é tratado por monarquistas como Dom Duarte III, e sua presença ainda desperta elogios em eventos cívicos e religiosos em Portugal. Sua família vive no Palácio de São Marcos, em Coimbra, e mantém a Fundação D. Manuel II, que financia projetos culturais e sociais. O duque já declarou em diversas entrevistas que “não deseja o trono, mas acredita que o sistema monárquico teria menos corrupção e mais continuidade de políticas públicas”. 

Alemanha 

Na pátria de Beethoven e Bach, que aboliu o império após a Primeira Guerra Mundial, o herdeiro seria Georg Friedrich, príncipe da Prússia, nascido em 1976. Ele é trineto do último imperador alemão, Kaiser Wilhelm II, que abdicou em 1918 e viveu o resto da vida no exílio na Holanda. Georg Friedrich é o chefe da Casa de Hohenzollern, a dinastia que governou a Prússia e o Império Alemão entre 1871 e 1918. Por sua linha genealógica, ele descende de Kronprinz Wilhelm, filho mais velho do Kaiser, e mantém assim a sucessão dinástica masculina. 

Educado na Alemanha e em Dundee, na Escócia, Georg Friedrich estudou economia e trabalhou na área industrial e de gestão antes de se dedicar integralmente à administração dos bens familiares. Hoje ele supervisiona fundações culturais e propriedades históricas, incluindo castelos e palácios herdados da dinastia. O herdeiro do trono da Prússia é casado com Sophie, princesa de Isenburg, e tem quatro filhos.

Embora se mantenha afastado da política, o príncipe volta e meia reaparece em debates públicos para se manifestar pela restituição de propriedades da família imperial confiscadas após a Segunda Guerra Mundial. Georg Friedrich defende que “o legado da monarquia deve ser preservado como parte da identidade cultural, não como poder político”. 

Brasil 

O herdeiro do trono brasileiro seria Dom Bertrand de Orléans e Bragança, atual chefe da Casa Imperial do Brasil. Ele é o segundo filho do príncipe Dom Pedro Henrique de Orléans e Bragança, bisneto direto da princesa Isabel — a Redentora — e trineto de Dom Pedro II, o último imperador do Brasil.  

Com a morte de seu irmão mais velho, Dom Luiz de Orléans e Bragança, em 2022, Dom Bertrand assumiu o posto de chefe da casa imperial, tornando-se, portanto, o pretendente legítimo a um pretenso retorno ao extinto trono brasileiro. Celibatário, é um homem que professa abertamente a fé católica e defende valores ligados à tradição cristã, à monarquia e à soberania nacional. 

O chefe da casa imperial brasileira Dom Bertrand de Orléans e Bragança (de begala), em 2022. (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Nascido em 1941, Dom Bertrand foi educado entre o Brasil e a França, fala várias línguas e formou-se em Direito pela USP. Ele vive em São Paulo, onde coordena as atividades do Círculo Monárquico paulista e participa de eventos relacionados ao movimento monarquista, à história do Brasil e à Igreja. 

Ao longo das últimas décadas, manteve uma atuação discreta, mas constante, em defesa do ideal monárquico, que ele define como “um sistema de harmonia social sob a égide de princípios cristãos e da responsabilidade moral do governante”. 

Como não tem filhos, o título de chefe da Casa Imperial passará para seu sobrinho, Dom Rafael de Orléans e Bragança. Nascido em 1986, trineto de Dom Pedro II e herdeiro dinástico da linha de Vassouras — o ramo principal da família imperial brasileira —, Dom Rafael vive na Europa, é formado em administração de empresas e representa a nova geração da dinastia. 

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