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Se você ler com atenção, este livro vai mudar a sua vida

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Sei que é pretensão demais de minha parte dizer que um livro vai mudar a sua vida. Ou a vida de alguém. As coisas não funcionam assim. Um livro que afeta o leitor como “Stoner”, de John Williams, me afetou pode ser uma leitura à toa para outro. Mas tenho esperança nas coisas mais improváveis. Tenho esperança não só de que você realmente leia o livro como também de que o romance o afete profundamente. Louco, né?

Pois bem. Cheguei a “Stoner”, um clássico americano do qual eu tinha ouvido falar assim por cima, graças a um amigo, que vivia dizendo que era uma obra-prima subestimada. Porque adoro “obras-primas subestimadas”, fui atrás e me decepcionei com a sinopse. O quê? Você achou que “Stoner” era um livro sobre um drogado? Hahaha. Eu também. Mas não. “Stoner” é apenas o sobrenome do personagem-título.

Vida pequena e comum

O livro, pois, conta a história de William Stoner. Ele é um professor universitário nascido numa família miserável do meio-oeste dos Estados Unidos, no final do século XIX. Só isso? Só isso. Stoner não mata ninguém nem espiona ninguém nem descobre segredos ocultos numa pintura de Van Gogh. Ele apenas vive uma vida pequena e comum – e isso é o mais impressionante do livro.

Poucas vezes me deparei com uma voz narrativa tão pungente. O narrador é seco, mas não é árido. Ele não é compassivo com o personagem, mas tampouco o trata com rigor. É isso! O narrador não julga William Stoner. Pelo contrário, ele deixa para você essa tarefa. O detalhe é que Stoner é estranhamente carismático, o que impede o leitor de fazer qualquer julgamento apressado – ou mesmo demorado. Stoner é só alguém que fez certas escolhas na vida e agora tem de lidar com as consequências. Se identificou?

Era de julgamentos sumários

Terminei de ler o romance há mais de uma semana e até agora não sei dizer se o personagem-título é bom ou mau. Se é herói ou vilão. Se foi um bom marido, um pai decente e um professor que prestasse. A única coisa que sei dizer é que Stoner é um ser humano comum enfrentando a vida, fazendo o seu melhor, errando e acertando, sendo algoz de uns e vítima de outros. E isso é libertador.

Afinal, você e eu sabemos bem que vivemos numa era de julgamentos sumários. De vilões e heróis absolutos. Um tempo desprovido de nuances ou veja-bens. Buscamos nos outros a perfeição que nos falta e, em não a encontrando, porque é impossível, nos revoltamos. Ou projetamos no outro as qualidades que supomos ter e o elevamos à condição de bezerro de ouro.

Vida interior

E tem o capítulo final, o da morte. Não, não é spoiler porque o romance é contado em flashback. Você fica sabendo que ele morre já nos parágrafos iniciais. Como ia dizendo, porém, tem esse capítulo que é uma descrição estranhamente bela (é, bela!) da morte de um intelectual. Ou melhor, de um tipo de intelectual específico. De alguém que, com o máximo de discrição, modéstia e correção, dedicou a sua existência ao estudo e ensino do que parece elevado – mas será mesmo?

Não por acaso, Deus não está presente em “Stoner”, a não ser tangencialmente. Ou nem assim. De modo que a vida ali naquele mundinho se torna claustrofobicamente mundana e secular. Nisso, John Williams consegue mostrar bem a diferença entre ter uma vida intelectual e ter uma vida interior. Uma diferença fundamental e que distingue o homem feliz e santo do homem meramente realizado. Leia “Stoner”. Leia com atenção. Ele pode mesmo mudar a sua vida.

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